Desde a chegada dos portugueses em nossas terras - que posteriormente foram intituladas de “Brasil” - que as populações tribais e “selvagens” que aqui viviam isoladas, com seres exóticos nus, de corpos pintados e adornos de plumas receberam o termo “índio” para designar inicialmente esses nativos frente ao conquistador europeu.
Porém, o termo continuou sendo aplicado aos descendentes dos nativos encontrados. Como resultado da imposição de políticas governamentais feitas por não indígenas, com os sentimentos de superioridade racial desde o colonialismo,a estrutura da discriminação, racismo e das diferenças reprimidas se reproduzem ao longo de nossa história construindo uma segregação “camuflada” em nosso país.
O conceito de racismo que uso neste artigo está ligado aos termos de Van Den Berghe , apud, Marília Patta (2004), ou seja: “ uma ideologia, a qual considera as características físicas imutáveis de um grupo ligadas de forma direta e causal com características intelectuais, psicológicas e culturais, as quais são a base para a distinção entre grupos racialmente superiores e inferiores”. Nesse sentido, o racismo será tratado como uma forma de expressão das relações de poder, e não simplesmente relacionado com a raça no sentido biológico.
Bem como a segregação étnica será considerada como a prática de restringir as pessoas a certas áreas, ou em separá-las em instituições e/ou à participação na ordem social em geral, com base na identidade étnica.
Contudo, para mim é importante instigar uma profunda reflexão quanto a interpretações sobre relações das minorias. Devemos considerar o papel dos dominantes como uma coisa isolada? As estratégias da classe dominante não estão relacionadas com as práticas dos dominados? Ou mais, os grupos étnicos não são culpados por serem vitimados? Senão,de quem é a “culpa”?
Minha intenção é mostrar que a partir de uma perspectiva histórica, baseada na relação de poder,nós não podemos justificar a atitude preconceituosa e de estereotipação desde a época da colonização até a atualidade, como uma simples questão de herança cultural.
O preconceito é visto aqui como “ uma antipatia baseada numa generalização falsa e inflexível. Ele pode ser sentido ou expressado. Ele pode ser sentido diretamente com relação a um grupo como um todo ou com relação a um indivíduo pelo simples fato dele ser membro daquele grupo”.
Está implícito em todos estes anos, principalmente em nossos livros que dizem retratar a “nossa história” para gerações, a idéia, que garantiu a dominação não-indígena no Brasil, de que cada um tem seu lugar na sociedade e que senhores, “índios” e escravos podem viver juntos em harmonia, assim queiram. Esta idéia paternalista teve um intenso conteúdo ideológico da supremacia do “homem branco”, alimentando que existem naturalmente grupos numa posição inferior na sociedade, distribuindo desigualmente o poder entre grupos socialmente distintos que vivem na mesma.
Foi Portugal que dominou a sociedade brasileira como um todo. A desigualdade era absolutamente proibida. Algumas tribos indígenas foram quase executadas por inteiro, quase chegaram a extinção, pois um genocídio foi aberto além das ameaças por epidemias (fatos que se repetiram anos depois na década de 70).
Neste contexto, tivemos autores tradicionais que diziam que o Brasil não era um país viável por causa da grande população miscigenada: “uma indesejável mistura de brancos, negros e indígenas.” O que só proliferou a tentativa de preservar os dogmas da superioridade e da discriminação contra a alteridade.
Assim, a abordagem conservadora sobre as relações étnicas no Brasil, sempre usou as velhas idéias, centradas no racismo para explicar a realidade de nosso país, a realidade da desigualdade social e econômica.
Essa ideologia racial criou imagens negativas dos indígenas em nosso país, eles foram vistos como “selvagens”, considerados “naturalmente preguiçosos” e depois até criminosos. Passamos a reconhecê-los somente como uma figura folclórica e até a mídia teima em publicar: índio vestido como nativo, vivendo da caça, agricultura de subsistência, no meio do mato, morando em ocas e praticando seus rituais.
Apesar do discurso da igualdade visto no Brasil a partir do século passado, podemos notar uma posição essencialista com relação aos indígenas : vítimas – culpadas. Por causa desta situação é correto o uso do discurso da “proteção”, da “dívida” (ou seria favor?).Estes, não seriam valores cultuados com o sistema hierárquico, dentro de uma estrutura paternalista?
Geysla Viana
Coordenadora Região Nordeste - JPS Brasil
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